Eu tenho essa mania doida de responder: "tudo bem sim, graças a Deus" e isso é tão automático, e algo "bizarramente" incontrolável, pq acho que simplesmente "tudo" ou "tudo sim" soa um tanto frio, beirando a falta de simpatia com uma pergunta que teoricamente demonstra alguma preocupação para comigo. Enfim, o fato é que eu, já há algum tempo, não acredito em Deus, e se por ventura ele existir, não está nem aí pra minha pessoa, de modo que eu tentar invocá-lo, fazer pedidos, preces, rezas e afins, pra mim, não surte efeito algum, são palavras ditas ao vento.
Desta forma, prefiro escrever poesia que é bem mais produtivo. Não é falta de fé, tenho fé nas coisas, fé nas pessoas (algumas), só não tenho fé em Deus. Se ele existir, nunca me ouviu. Tudo que eu pedi, nunca aconteceu e qdo finalmente desisti de parar de tentar falar com ele é que as coisas passaram a acontecer, e certamente não por ele, mas pelo próprio curso das coisas em si.
Ah, sei lá... Não tenho essas fantasias de que alguma força sobre-humana vai me ajudar, eu simplesmente levanto a bunda da cadeira e vou à luta, e sinceramente acho que é desse jeito que tem que ser. Pelo menos pra mim. Mas respeito muito, do fundo do coração, quem pensa diferente.
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Muita gente não sabe, mas minha primeira pós foi em adm, depois da faculdade de cinema, e as pessoas sempre comentam: "nossa, nada a ver vc ter feito pós em adm, se fez graduação em cinema e gostava de teatro, pq já não fez logo de cara em artes cênicas e blá-blá-blá". Mas o fato é que meu tcc nessa pós foi sobre feedback positivo em gestão de pessoas e desde então eu uso isso que estudei em absolutamente TUDO, mas tudo mesmo na minha vida, pessoal e profissional. E eu vou morrer defendendo essa linha de pensamento e não há nada que me faça pensar o contrário!
Bem, anos depois, mais recentemente, já na reta final do mestrado, me deparo com uma situação que me fez confirmar ainda mais a importância deste jeito, inspirado no feedback positivo, de lidar com o outro. Eu tinha acabado de voltar de NY, onde participei de uma feira literária (na qual eu tive a imensa honra de conhecer diversas das minhas muitas musas inspiradoras), bem como estava escrevendo a todo vapor, e estava na reta final da produção do meu primeiro livro, com lançamentos já marcados para SP, Flip e off-Flip, mas tinha nessa ocasião um professor, pelo qual tenho um imenso carinho, uma eterna gratidão e um respeito gigante, que sempre muito me incentivou com minha escrita, mas nesse determinado momento passou a criticar, com muito afinco, tudo aquilo que eu vinha escrevendo (e de verdade, eu nunca entendi o porquê dessa mudança repentina no lidar com minha demanda de escrita).
Ele então dizia que achava meio "bobo" eu falar de amor e de superação de depressão, por exemplo, bem como achava um desperdício eu usar as formas da poesia popular brasileira pra falar sobre esse tipo de assunto. Ele dizia que o que eu escrevia não fazia muito sentido, vivia dizendo que os meus versos precisavam ter e fazer mais sentido para que as pessoas pudessem entender o que eu de fato estava querendo dizer e, embora minha métrica fosse perfeita, ele dizia: "parece que tem um pé quebrado aqui, leia de novo", e depois voltava atrás dizendo que estava tudo correto, mas ainda assim bem sem graça, enquanto temática/oração. Isso em geral acontecia em meio a companhia de outros colegas de escrita, o que acabou fazendo com que eu passasse a escrever cada vez menos, chegando até mesmo a travar na hora da escrita, e inclusive voltasse a me deprimir.
Enfim... Fiz os lançamentos programados, fui às feiras, ganhei os prêmios e tb conheci muitas e muitas pessoas especiais, que me estimularam demais a seguir em frente, bem como tb, com certeza, partilhavam (e partilham) desta visão de mundo ligada às questões do feedback positivo, como eu. Ademais, consegui mais uma vez me levantar, seguir com meus projetos e acabei por escrever e lançar, um pouquinho antes da pandemia, o meu segundo livro, esse da capinha rosa que tem gente que ainda acha que é só mais um livrinho de menininha.... Enfim...
Mas tá aí, pra agora e pra posteridade. Tudo isso pra dizer que SIM: tudo o que fazemos vai repercutir de alguma forma em algum momento de nossas vidas (ou seja, eu uso meus estudos de adm até hj, o tempo todo, e com muito prazer e gratidão) e NÃO: eu não vou parar de escrever pq ninguém tem o direito de tirar isso de mim! E SIM No. 2: estou melancólica e sensível em meio ao meu inferno astral e NÃO No. 2: eu não vou me arrepender de compartilhar esse sentimento, pois desta forma eu desafogo o meu peito e deixo aqui meu sopro de esperança e força, bem como meu grito de resistência e liberdade.
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Ano passado, nessa época do ano, eu tirei duas semanas de folga e fui pro nordeste pra pela primeira vez em muito tempo, descansar por lá, pois ao contrário das últimas 5 ou 7 vezes que tinha ido pra lá, ia carregando dentro de mim aquele objetivo latente de pesquisar, de modo que era a primeira vez, nos últimos anos, que conseguiria voltar pra lá com as metas já alcançadas e os prazos já cumpridos. Fui primeiro pra Bahia e fiquei lá por uma semana. De lá, iria pra Pernambuco pra continuar minha folga por mais uma semana. Nesse meio tempo, voltei rapidamente a São Paulo, antes de seguir pra Recife, pra uma reunião que era muito, mas muito importante pra mim, e então segui viagem.
Voltando de Pernambuco, já renovada e com a ideia de um novo livro que começava a se desenhar, retomei a circulação do nosso espetáculo mais recente da cia. de teatro, fomos a festivais, fomos premiados, vivenciei coisas inesquecíveis e eis que aquela reunião do meio da viagem deu bons frutos, e fui contratada pra um trabalho que amava demais, de paixão, que era o sonho da minha vida, e eu vivi intensamente tudo aquilo.
Eu amava dar o melhor de mim, recebi tanto carinho dos pequenos com quem trabalhei, ganhei até presentes e bilhetinhos carinhosos no meu caderno de anotações (mesmo quando eu dava bronca ou ficava brava por não prestarem atenção), os quais às vezes eu só ia descobrindo a medida que sentava pra organizar um diário de atividades que eu preenchia religiosamente e de forma muito detalhada. Depois eu fui descobrir que isso talvez não fosse tão importante, ou se era, nunca ninguém me disse sobre a importância de fazer relatórios assim tão detalhados, mas eu seguia fazendo, já que era (e é!) o meu jeito de ser.
Durante essa experiência, tudo era extremamente perfeito, não fossem os constantes desfiles de egos e algumas caras e olhos que me fitavam como que me achando um tanto boboca, pq eu estava sempre sorrindo, o que pra mim era super normal, já que eu amava intensamente o que ali fazia. Às vezes tb sentia que me olhavam como se eu fosse boboca tb por ser "muito boazinha" (acho que era assim que falavam, enfim, não me lembro direito). Mas eu lembro bem de todos os olhos e dos olhos eu não me esqueço. Por fim, chegou o término das atividades por conta do recesso de natal e tudo o mais, e nada se falou de renovação de contrato.
Eu perguntei sobre, e muito carinhosamente me avisaram que a equipe atual ainda não havia sido definida e eu resolvi então aproveitar este intervalo de incertezas pra propor algo novo pra eles, na vontade de querer agregar, e mandei um e-mail com um projeto que desenvolvi com muito amor, pensando na estrutura e diretrizes do lugar, propondo a abordagem da cultura popular brasileira na instituição, pois aquilo fazia brilhar meus olhos, mas aí veio a pandemia e não tive nenhum retorno. Esse e-mail sobre a possibilidade de projeto NUNCA me foi respondido.
Talvez pq eu sorrisse demais, talvez pela pandemia, talvez pq não desfilasse meu ego pelos corredores, ou talvez pela plena realidade de eu me sentir muito mais à vontade na companhia das crianças do que dos adultos de lá, de modo que tinha muita dificuldade em conversar com esses adultos, mas o papo com as crianças fluia incrivelmente e até mesmo as mais espevitadas delas me ensinaram brincadeiras e curiosidades que até hj me servem de objeto de estudo.
No mais, segue o que eu realmente gostaria de dizer, a partir desta história toda: aos adultos que por lá conheci, deixo o meu profundo respeito, carinho e minha gigante gratidão pela oportunidade de ter vivenciado tudo isso, e às crianças que tanto me alegraram e me "infernizaram" carinhosamente por lá, deixo o meu eterno e mais puro amor, por provavelmente terem sido as únicas, neste período, a me enxergarem como de fato eu sou.
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Fiquei pensando muito nesse período de quarentena: toda minha formação foi em teatro (bom, não posso me esquecer do cinema e tb da adm, rs!), mas o fato é que só recentemente passei a usar a poesia de forma digamos que profissional, bem como acadêmica (na realidade ela sempre esteve super presente em minha vida enquanto válvula de escape) e hj eu digo que sinto muito por isso (embora eu provavelmente vá me arrepender por estar dizendo isso).
E não por isso em si, mas basicamente pelas pessoas que conheci, não todas, claro, pois há belíssimas e amadas excessões, mas boa parte delas (principalmente com relação a parcela feminina da "coisa").
O que ocorreu é que eu fui tão bem recebida no meio literário e fiz amizades tão lindas, intensas e verdadeiras, que me lembram minhas amigas de infância (aquelas que conheço há uns 30/35 anos ou mais). Acho que nunca nenhuma dessas mulheres me encarou como "concorrente" ou como uma "ameaça". As mulheres da literatura são diferentes, elas se ajudam, se agregam, se fortalecem, se somam, se doam, se estimulam.
Pq não me atirei nisso antes? Pq? Acho que teria sido bem mais feliz, talvez nunca tivesse experenciado a depressão ou a síndrome do pânico... Mas... Enfim, como a vida é toda cheia de processos e acredito que cada etapa deva ser importante e blá-blá-blá...
E não que eu vá abrir mão do teatro, acredito que não. Isso é só uma reflexão. Mas com toda a certeza vou prestar bem mais atenção nas conexões (femininas, sobretudo) que vão brotando e se fazendo presentes nesse meu caminhar.
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Hj me veio a cabeça um episódio que aconteceu comigo há alguns anos. Eu tinha acabado de deixar a edição de vídeo pra trabalhar como modelo, estava na Elite Models, e na ocasião só tinha a pós-graduação em adm, além da faculdade de cinema, e tinha voltado a estudar teatro. Naquele tempo eu estava gostando daquilo, me fazia feliz, eu ganhava bem (bem mais do que na edição de vídeo) e aumentava a autoestima, que, diga-se de passagem, nunca fora muito boa.
O fato é que peguei uma campanha pra uma empresa bem gde de cama, mesa e banho (vou expor aqui, né, afinal, dane-se, rs!), chamada Trousseau. Bom, eu cheguei no estúdio toda alegre, como de costume, fui bem recebida, estava trocando ideia com as outras modelos, porém alguns minutos depois o produtor/diretor de arte veio até mim e disse que precisaria me dispensar.
Eu perguntei pq e ele me disse na lata: "você é linda, mas a sua coxa é muito grossa e isso não é chique, então fica fora do padrão pra campanha". Detalhe: eles tinham me aprovado pro trabalho com muita antecedência, tinham todas as minhas medidas, fotos, material, etc e tal. Na época me lembro que saí destroçada. Chorei muito, liguei pra agência que tb pareceu se indignar (ou pelo menos fingiu que...), liguei pro João me buscar, fiquei mal pacas e afins.
Mas pensando nisso e em tudo, é por essas e outras que há quase três anos parei totalmente de fazer publicidade. Na época que decidi não mais fazer publicidade, eu usava a desculpa de que estava muito atrapalhada com os horários e obrigações do mestrado (e até hj eu uso desculpas como essa) pq pras pessoas parece um absurdo muito gde eu rejeitar trabalho nos dias de hj, sobretudo com cachês relativamente altos. Mas o fato é que qdo tomei essa decisão foi pq finalmente decidi que NÃO queria/quero ser reconhecida e valorizada simplesmente pela minha "casca".
Eu tenho muito mais que isso a oferecer e mesmo tendo a plena consciência de que o que ganho agora com teatro e poesia (literatura em geral) deva ser uns 20% (às vezes nem isso) do que ganhava com publicidade, tenho a plenitude de deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz comigo (embora com rivotril, rs!) por saber que não faço mais parte desse mundo de antes com o qual deixei de compactuar há muito tempo.
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Por que será que quando demonstramos muito do nosso carinho e afeto para determinadas pessoas, elas fogem, ignoram, saem correndo ou simplesmente não sabem recebê-lo? Eu, por exemplo, sou 100% afeto e eu tenho uma necessidade absurda de externar o meu afeto pq ele é tão grande e tão intenso, por tudo e por todos, que é capaz de eu morrer sufocada se eu não colocá-lo pra fora. Mas acabei constatando, já há um bom tempo, um certo padrão nesta realidade na qual estou inserida, no sentido de que as pessoas parecem, em geral, se assustar com determinadas demonstrações de carinho e afeto, e tendem a sair correndo quando externo a alguém algo assim.
Já no meu caso é exatamente o contrário, o afeto me atrai, é como um imã, já o que me faz ter vontade de sair correndo é justamente a falta dele. Sei lá, é um mundo bem complicado e é algo que eu acredito que sempre vou custar a entender, bem como sei que terei essa imensa dificuldade de me encaixar nestes tipos de padrões recorrentes, além de não conseguir de verdade compreendê-los, o que é algo extremamente desconcertante pra mim.
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Em tempos de pandemia, seguem sete regras básicas pra não ser um(a) babaca declarado(a) (do meu simplório ponto de vista) nas redes sociais:
1 - Te marcaram em uma publicação que te dá uma força, divulga seu trabalho, te deixa um carinho e afins? CURTA!
2 - Te mandaram uma msg? VISUALIZE (pode ser importante, se não pra vc, mas pra quem a enviou)!
3 - Visualizou uma msg que alguém teve a delicadeza de te enviar? RESPONDA (se não consegue escrever ou não está a fim, pelo menos dá um "curtir", manda um emoticon, etc, pois custa ZERO REAIS ser "simpático(a)/agradável"!
4 - NÃO marque pessoas em publicações que não sejam interessantes/necessárias e NÃO mande msgs que não sejam interessantes/necessárias! Ou não espere uma resposta por elas!
5 - Seja grato e "humilde", pois custa ZERO REAIS usar palavras como "desculpa" e obrigada(o)!
6 - Não sabe brincar? NÃO desce pro play!
7 - Se vc é bolsominion, DESCONSIDERE as regras acima, pois pra vc simplesmente não há salvação!
P.S.: isso não é uma indireta a ninguém em específico, é simplesmente uma constatação que me ocorreu durante esse período de quarentena. Se por acaso a carapuça lhe serviu, talvez seja a hora de vc repensar suas atitudes "fofuras"!
No mais, bjs de luz!
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Resgatei meu iPad antigo, de 2012, que ainda funciona e que agora comecei a usar como "kindle", só pra leitura de e-books, porque já estava ficando completamente cega de ler pelo celular. E eis que me deparo com essa minha pequena e insólita nota, de 22 de dezembro de 2016, esquecida no bloco de notas do antigo aparelho:
< Oi, eu estou dando continuidade a minha pesquisa da Pós nesta porcaria de iPad de quando eu fiz 30 anos, comprado em NY quando eu ainda era gente, porque agora eu sou uma pobre desgraçada que não tenho nem onde cair morta! >
E olha que eu nem imaginava que dali a 3 aninhos e pouco chegaria o nosso "glorioso" 2020! Mas, em tempo, comprei um laptop usado, um tempinho depois, na época do mestrado, e parei de reclamar!
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Será que pelo menos postumamente ela será vista, será lida, será assistida, será ouvida, será de alguma forma valorizada, atingirá as pessoas, cumprirá seu propósito? Será que deixei tudo acertadinho por aqui, será que o que fiz foi satisfatório, será que fui boa o bastante, prestativa o suficiente, principalmente para as pessoas que cruzaram o meu caminho? Eu tenho muitas incertezas, eu tenho muitas inseguranças, eu tenho muitas angústias, eu tenho muitas dores... Mas o que eu mais tenho é, sem sombra de dúvidas, medo de ter passado por aqui em vão...
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Eu descobri um tanto que eu sou que eu nem sabia que eu era e outro tanto que eu não sou que eu tinha certeza absoluta que eu sempre fora. Eu descobri um "eu" tão diferente de mim mesma mas que é tão igual que eu nem acredito que eu de fato sou assim. E descobri que até agora eu estou na busca eterna de saber quem de fato eu sou, mas sem esquecer daquele "eu" que um dia eu sonhei ser.
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Pra mim é simples assim: a rima acalenta a minha alma, por vezes me acalma e me permite transbordar. Já a métrica, quase sempre me conduz, quando é doida me seduz e "ritma" o versejar. Desta forma, eu constato e já sem ter muito tato: a paixão que me extravasa, sem a rima fica rasa, e se a métrica amolece, ainda assim ela acontece, pra que vou me preocupar? Então digo, brevemente, que ninguém me doma a mente, e se escrevo loucamente, é que gosto de rimar.