1 de novembro de 2011

A antítese

A antítese do marasmo ensurdecedor garantia-me uma vindoura e pasmaceira noite de nuvens enegrecidas. Eis que estagnada estava naquele chão desnudo e ignóbil, sem que qualquer expectativa de periculosidade, bem como imperturbabilidade alguma pudesse transgredir-me. Era uma vertiginosa camada da mais pura e párvoa debilidade mundana jamais dantes defrontada. Seria parte de seu tão ferino e inescrupuloso hábito de sofismar? Quisera eu ter um quinhão sequer de refutação, contudo, assim, desta maneira, a orar de modo mais que pertinaz e tão convulsivamente, encerro por perdoar-te, sem relutância, outrora, se não agora.

9 de setembro de 2011

Borboleta

Naquela manhã embevecida pelo perfume açoitador de uma noite inteira de triste enxurrada, pairava por entre as oriundas flores, a mais deslumbrante das borboletas já avistadas naquele intransigente vale, repleto por brejos e figuras espasmódicas.
Era bela, inconsequente, oblíqua, de um brilho incandescente, exalando uma certa dubiedade a medida que planava delicada, como uma pena a flutuar, e imponente, como o mais onipresente dos seres, se esguiando por entre a vegetação.
A simplicidade não lhe fazia parte, bem como a enfadonha consciência de sua limitada e inocular condição.
Um pouco mais adiante, à espreita, por entre galhos retorcidos e enredadores, encontrava-se outrem, de ténue e triste semblante, à espera daquilo que lhe traria um miúdo, mas significante, quinhão de felicidade.
O início de uma densa e torpe garoa antecedeu aquilo que seria o último bater das asas daquele singular, mas extraordinário inseto, tornando sua doce e altiva existência pífia, assim como o mais puro intento de cada indivíduo que já ousou na terra subsistir.

18 de agosto de 2011

Instinto amargurado

Instinto amargurado, doce desdém
Fétida alma, desgosto sem fim
Tortuosamente chega e me detém
Suja minha índole, crava-se em mim.

18 de maio de 2011

Sinto que minha vida não é pequena

Sinto que minha vida não é pequena
Sinto que posso não mais ser serena
Sei que tudo valerá a pena
Sei que a dor poderá ser amena
Antes que a morte entre em cena
Percebo que a infelicidade não mais me condena
Descubro o fruto que me envenena
Atiro-o longe, sem temer.

Descubro que o amor engrandece
O meu corpo agora perece
A essência da alma permanece
O perfume proibido enaltece
Você escuta e atende minha prece
Envia-me um sinal, mas não aparece
Me protege do frio, me aquece
O vento gelado e obscuro enlouquece
A chama se apaga, o fruto amadurece
E antes que eu me cure, você me esquece
Some pra sempre e eu fico a sofrer.

10 de março de 2011

Tédio

Tédio este que me consome
Enfadonho sentimento de desilusão
Ira, por Deus, não me transforme
Atenue minh´alma, resgate-me do chão.

Se te desdenho, não é por demais
Se me arrisco, arrebento-me na surdina
Soa-me tão claro que não sou capaz
Por mais repugnante, ainda sou menina.

4 de fevereiro de 2011

Gota lírica

Gota lírica de extrema pungência
Tronco retrógrado, água tão ferrenha
Superfície distorcida, torpe displicência
Afaga-me o dorso, tão logo me desdenha.

11 de janeiro de 2011

Tão infindável

Tão infindável e ambíguo era o ser
Duro, vil, sádico e um sobejo poltrão
Vi, pouco a pouco, sua tez empalidecer
Soluçou e suplicou-me, assim de supetão.