9 de setembro de 2011

Borboleta

Naquela manhã embevecida pelo perfume açoitador de uma noite inteira de triste enxurrada, pairava por entre as oriundas flores, a mais deslumbrante das borboletas já avistadas naquele intransigente vale, repleto por brejos e figuras espasmódicas.
Era bela, inconsequente, oblíqua, de um brilho incandescente, exalando uma certa dubiedade a medida que planava delicada, como uma pena a flutuar, e imponente, como o mais onipresente dos seres, se esguiando por entre a vegetação.
A simplicidade não lhe fazia parte, bem como a enfadonha consciência de sua limitada e inocular condição.
Um pouco mais adiante, à espreita, por entre galhos retorcidos e enredadores, encontrava-se outrem, de ténue e triste semblante, à espera daquilo que lhe traria um miúdo, mas significante, quinhão de felicidade.
O início de uma densa e torpe garoa antecedeu aquilo que seria o último bater das asas daquele singular, mas extraordinário inseto, tornando sua doce e altiva existência pífia, assim como o mais puro intento de cada indivíduo que já ousou na terra subsistir.