5 de dezembro de 2010

Quão enorme és

Quão enorme és tua podridão?
Que se assemelha ao infame destino
Que se esfacela de encontro ao chão
Que se esconde por detrás de um menino
Mas que não passa de um mero charlatão
Envenenaste um espírito tão fino
Fizestes sofrer, fora tudo em vão?
Já entoastes o mais triste hino
E agora provas da solidão.

10 de novembro de 2010

Outrora

Outrora, recusastes o amor que recebera
Cuspistes na linda face perfeita e aveludada
Lapidastes a estátua que o indigno oferecera
Marcastes um grosso traço na íris imaculada.

Já não me cabe aqui julgardes prontamente
Entrego a razão ao palmo de súplica desdenhada
Se te vi descabelar-te tão abruptamente
Descartei, aos prantos, a lembrança atormentada.

4 de outubro de 2010

Lírio amável e esmaecido

Lírio amável e esmaecido
Pinta-me a cútis, enfeita-me a mão
Acha que dobra-me como tecido
Amolece-me, porém, o faz muito em vão.

Adorna-me tão simples e futilmente
Percebo que és por demais superficial
Deseja, então, possuir-me a mente
Mas não o fez no início e nem no final.

Sexto sentido que me desrespeita

Sexto sentido que me desrespeita
Íntimo pensamento sofrido e aguçado
Amargo movimento que sempre me rejeita
Tortura encoberta, tecido plissado.

Incompreensível, insistente pavor diurno
Tentando adestrar-me sem nenhum resultado
Deixei que ficasse a martelar tão soturno
Não te quero aqui, incoerente, desqualificado.

2 de setembro de 2010

Triste marasmo displicente

Triste marasmo displicente
Que insulta-me com sua alma tão incapaz
Arrebenta-me o âmago vulgarmente
Alimenta-me com seu instinto voraz.

Invalida o ser notívago que aqui jaz
Delimita sua atitude estarrecedora
Perturba-me, destruindo minha paz
E afundando sua cisma constrangedora.

Sonhei que no horizonte pairava

Sonhei que no horizonte pairava
Céu, divindade, extasia
Ao sentir que o ar me enlaçava
Impreterivelmente eu sorria.

Era simples assim tal momento
Sem nada almejar, simplesmente existia
Lírico, sutil e delicado era o vento
Vida doce e perfeita, quem diria.

16 de agosto de 2010

Cândido Sorriso Imaculado

Cândido sorriso imaculado
Inciso selo de beatitude
Transpõe-te o semblante paralisado
Cora-te a cútis com plenitude.

Jorra-te o indefeso frescor noturno
Costura-te a face iluminada
Quebra-te teu respirar soturno
Projeta-te como sombra inanimada.

Ares Funestos

       Águas claras e esguias escorriam sobre a terra esparramada na grama macia daquele ambiente frio e sombrio.
       Era noite, tranquila, imaculada, e a lua cheia naquele instante iluminava quase que por completo os arredores do sepulcro há pouco violado que se achava, agora, humilde e perdido.
       Aqueles ares funestos, um tal meio um tanto desbragado, de cores aniquiladas, simples e puro argueiro, tornara-se inexoravelmente medonho e asfixiante.
       Oh, infortuna e desafável reminiscência de um passado medíocre e demente, a insistir por um espaço nascente e oblíquo, tentando figurar-se num novo profundo e atinado fado.
       Em um súbito e ligeiro embate, um fluido elétrico rapidamente se desprendeu de uma nuvem torpe e eletrizada, rumo ao inepto e transgredido sítio incontestavelmente a aniquilar toda e qualquer forma de expectativa vindoura da qual este ainda poderia tencionar gozar.

23 de julho de 2010

Que minha aura transcenda

Que minha aura transcenda eloqüente
Que meu sorriso seja de paz e alegria
Que minhas lágrimas sequem rapidamente
Que meu espírito semeie harmonia.

Que meu carinho não seja mensurado
Que a bondade sempre se torne plena
Que meu desejo não seja censurado
Que minha alma jamais seja pequena.

19 de julho de 2010

Inconstância

Inconstância, simples e obscuro sentido
Tornou-se para mim indigno, não mais por ser cedo
Sem má intenção, zombei de seu gemido
Aliviou-me a dor que pincelava-me sem medo.

Hoje meu respirar é sempre muito leve
Minha alma sorri perfeita e imaculada
Se me entristeço, isso é muito breve
E logo liberto minha doce gargalhada.

Folhas

Folhas arremessadas ao chão
Outras a deslizar lentamente
Algumas roçam-me a mão
Outras machucam-me brevemente.

Vez ou outra vejo delicadeza
Ora a brutalidade se faz presente
Sonho apenas em ser princesa
E acalentar o que vier pela frente.

25 de junho de 2010

Amargo suplício inerente

Amargo suplício inerente
Triste desilusão desenfreada
Gotejou e gotejou lentamente
Até que dali não saiu mais nada.

Um alívio, um suspiro, um riso pleno
Tudo flui depressa, a aniquilar tal pavor
A liberdade vindoura se faz num aceno
Paz tão perfeita, fim de uma dor.

Parecendo flutuar

Parecendo flutuar
A pequena formosa escorria
De beleza singular
Sua face era fria.

Num caminho a translucidar
Sua áurea enaltecia
Ávida por se libertar
A gotícula se dizimou na pia.

26 de maio de 2010

Face imunda e desatinada

Face imunda e desatinada
Escárnio, zombaria, desilusão
Alma apodrecida, dor imaculada
Triste e maldita, sem qualquer intenção.

Ser impetuoso e intransigente
Destemido, indigno e amargurado
Pobre alma, imbecil, demente
Esquecida, sem cutis, de olhar calado.

Esfera a esmaecer

Esfera a esmaecer
Triste circunferência compadecida
Sem amarras, destrambelhada
Branda e destemida.

Ávida, irritadiça
Irrigada pela simples convicção
Constantemente a driblar cada insulto
Sem desleixo, regada pela falta de noção.

23 de fevereiro de 2010

Vento

Vento que me chega frio
Brisa que acalenta minha alma
Sopro que me enlaça como fio
Laço que eu escondo em minha palma.

Vem como correnteza de um rio
Banha-me, contudo me acalma
Afoga inteiramente este vazio
E cura-me por completo deste trauma.

Gota de Orvalho

      Dotada da mais bela e eminente sensação de limpidez, desfilava por entre folhas verdes e viçosas a mais genuína e apaniguada gota de orvalho, exalando júbilo e frescor.
      Era arredondada, diáfana, sensível, mas não chegava a ser pusilânime.
      Simplesmente conservava-se, sem que pudesse interferir diretamente na pura essência de qualquer ser que ali se achava, de modo que sentia-se um tanto quanto incapaz e vez ou outra insignificante.
      Dimanava singela e docemente a encorpada gotícula, sempre a deixar em seu breve caminho, um deleitoso traço a desenhar-se.
      E assim, à medida que sua concisa vereda era consumada, minguava deliberadamente a suave pequenina, até que, inevitavelmente, a partir de uma oportuna ocasião, passou a não mais existir.

Brilho intenso e incandescente

Brilho intenso e incandescente
Sinto o céu se abrir no breu
Sinto a paz tão entorpecente
Brilho forte se acendeu
A alegria me invadia
Hoje tudo se esvaiu
Uma pura harmonia
Nunca mais ninguém sentiu
O buraco negro crescia
A mais pura alma morreu
Pois a dor que pouco eu sentia
Hoje não tarda e já se ergueu
Cravando num mar de tormenta
O pulso esfacelado e sangrento
A paixão do murmúrio hoje venta
Sem que a vida dite o rumo do vento
Nossos laços se dilacerando
Nossos corpos perecendo num obscuro
E aquilo que nos unia, amarrando
Machuca a alma, produz um furo.

Caminhando pela Rua

      Caminhava Ana Sofia pela rua extensa, chutando alguns dos cascalhos enrugados e sórdidos que ali repousavam úmidos, devido à intensa chuva do dia anterior.
      Pensava ela na vida, pensava no quanto era infeliz e pensava que sua vida era extremamente monótona, enfadonha, sem brilho algum que lhe fizesse sentir-se de fato exultada ou coisa parecida.
      Sempre teve a incalculada vontade de que algo inovador e excêntrico se sucedesse, algo este que ela realmente não estivesse esperando e que lhe animasse profundamente, arrancando-a do marasmo perseguidor e punidor, que não a deixava nunca sorrir.
      Andava a pequena de vestido quase longo, meia canela, se assim pode-se dizer, já que canelas não tinha, pois aquilo eram quase que toras, se não pernas fartas e arredondadas.
      Ah, que vergonha sentia ela de suas pernas. Infortúnio, desgraça e maldição. Enfim, estava ela, como de costume, se sentindo desfigurada com tal vestimenta, que ainda hoje lhe atormenta, mesmo tendo a esburacado por completo com uma tesoura quase que enferrujada, afim de que o buraco além de buraco, fosse também sujo, quase que cor de sangue envelhecido, como se esta mancha determinasse o caminho desgraçado pelo qual estaria sempre a menina a caminhar com suas toras, digo pernas, sim as mesmas malditas pernas.
      Mas enfim, andava ela, ou melhor, arrastava-se quase corcunda, ainda com tal vestido, longe, perdida em seus pensamentos como quem, num momento de debilidade mental, se atormentava simplesmente por existir.
      Eis que, como num solavanco súbito e transgressor, esguia-se um embaciado roedor saído de uma sutil fenda do imundo solo de terra batida, fazendo com que Ana Sofia, sem tempo de se resguardar, como era de se esperar, arrebentasse prontamente de encontro ao chão.
      Sim, aquelas mesmas toras, por tantas vezes repugnadas, açoitadas, aviltadas, sofriam desajustadas, agravadas, feridas e esparramadas na irregular superfície torpe, enlameada. E assim, pela primeira vez em sua tão comum existência, Ana Sofia passou a valorizar aquilo que anteriormente tanto fora rechaçado, desmerecido e humilhado, clamando pelo fim daquela tão indesejável e pungente sensação de dor.

As cores escorrem pela incrível transparência

As cores escorrem pela incrível transparência
Os vidros se quebram impelidos pela demência
Meu corpo está agitado
Treme sem parar
O suor que escorre suavemente
Contrasta com seu movimentar
Como uma chama incandescente
Que insiste em não mais se apagar
E quando finalmente é consumida
Um sossego me alastra totalmente
Tentando emaranhar-se na minha vida
Deixando então meu corpo dormente
Mas a chama se volta
Vejo que insiste realmente
Pequenas bolotas de fogo, meu corpo solta
Agita-se convulsivamente
Em um movimento pesado
Começa-se tudo novamente
Depois tudo de novo se torna calado
Como se meu corpo estivesse dormente
E antes que eu acorde desse sono sem sorte
Em que mergulhei profundamente
Descubro que estou logo a beira da morte
E estou sendo julgada como insolente
Sem que possa então me defender
E antes que eu possa em paz, por fim, morrer.

Há algo preso em peito

Há algo preso em peito
Que me sufoca noite e dia
Percebo que estou diferente
Houve uma mudança no que eu sentia.

Sinto algo diferente
Uma felicidade intensa
Meu coração está acelerado
Meu corpo não age, minha mente não pensa.

Chuva

      Com a delicadeza de um elfo e a altivez de um asbesto, escorria a gota lentamente pela janela, deixando para trás seu modesto rastro, a desenhar-se na superfície translúcida que curiosamente era observada por Ana Luzia.
      Já havia três longos dias em que a enxurrada não cessava, deixando a pequena encolerizada por não poder sair para dar seus tão esperados passeios matinais.
      Não restava mais nada de interessante para a jovem se atarefar dentro de sua casa e aquela situação era tão enfadonha a ponto de Ana Luzia começar a desesperar-se.
      A rotina nunca fora tão veemente assim com a menina e como que num lapso momentâneo, driblando os olhares rígidos de sua mãe, ela decidiu pular a janela e sair a passear na chuva mesmo.
      A jovem achava estranho e ao mesmo tempo gozado sentir cada gota de chuva escorrer por sua pele delicada, tão assustada pela nova sensação. Desde muito pequena, nunca lhe fora permitido apanhar chuva, no exagerado intuito de deixá-la a salvo de um possível resfriado.
      Rapidamente, seus longos cabelos castanhos se encontravam encharcados, bem como sua modesta camisola de organza lilás. Suas chinelas absorviam pequenas quantidades de água das poças sobre as quais Ana Luzia caminhava, além de encontrarem-se lambuzadas pela lama.
      Um breve suspiro antecedeu um espirro curto e intenso que logo se diluiu na enérgica umidade do ar e como que num embate, Ana Luzia se desequilibrou bruscamente, escorregando na lama que a cercava com tamanha abundância.
      Seu corpinho desabou com indelicadeza e sua cabecinha esfacelou-se de encontro ao chão. Seus meigos olhos se fecharam de modo ligeiro e uma lágrima quente escorreu-lhe sobre a face, como a gota de chuva que há pouco escorregara mansamente pela vidraça e a deixara tão curiosa.

Quanta angústia desesperada

Quanta angústia desesperada
Talvez a vida deva parar
Tanta lágrima derramada
Muito sofrimento pra te esperar.

Estou no limite, está muito pesado
Mais um passo e o abismo me estilhaça
À frente vejo meu sofrimento ao teu lado
Pra trás, sem ti, enxergo a minha desgraça.

O Parco Assombroso

      A noite impunha-se severamente sobre as incríveis proporções que compunham o casarão, erguido sobre um terreno plano, aparentemente há centenas de anos.
      No interior de tal edificação, estirado no grotesco e putrefato chão umectante, próximo a uma velha parede de alicerces arrebatadoramente dilacerados, repousava a tão desfigurada criatura infeliz, rodeada por mofo, baratas, e por outros seres displicentes e arrebanhadores.
      Uma mulher, de um fascinante e tenebroso sorriso, dirigiu-se até a figura horrenda, iluminando o estranho rosto enrugado, com olhos profundos, de expressão hedionda e constante, que se encontrava naquele lugar.
      Com um gesto cênico, porém contido, atirou-se aos braços do incrível medonho que repousava aniquilado no chão, gritando desesperada, indagando insistentemente por que ele teria fugido de uma tal cerimônia, mais propriamente uma seita, e por que não havia aceitado servir ao poderoso senhor das trevas, que se encontrava furioso por tal ocorrido.
      Num solavanco, a criatura repugnante levantou-se e meio que cambaleando, pisando por cima das outras criaturas que repousavam naquele mesmo lugar, livrou-se do rosto desesperado da mulher, que gritava incessantemente que teria vindo buscá-lo, capturá-lo para conduzi-lo até o mestre, o qual concluiria o sacrifício a que ele seria submetido, como forma de punição a falta que cometera.
      Ouviram-se ruídos e de repente todas as criaturas adormecidas no tenebroso salão, levantavam e urravam simultaneamente.
      A mulher mostrou-se surpresa e começou a praguejar, utilizando-se das mais baixas palavras que vinham em sua mente perturbada.
      Os monstrengos de faces incomodadas cercavam a louca que continuava gritando blasfêmias e clamando pelo senhor das profundezas.
      A lua passou a iluminar o salão com mais intensidade e a mulher pôde ver o rosto enfurecido de cada criatura que a cercava.
      Enfrentando-as, ela pôde conter o medo que parecia brotar em seu coração pela primeira vez.
      Janelas e portas começaram a se bater. A tempestade, que se formava do lado de fora, passava a invadir o interior do edificante e monstruoso casarão de ares fúnebres.
      Todas as bestas foram atiradas à parede devido a forte velocidade do vento e logo em seguida espatifaram-se no chão úmido, dispostas a partir novamente pra cima da endoidecida mulher agachada ao centro do aposento.
      Neste instante ouviu-se um sinal vindo de fora. As luzes se acenderam e os atores se levantaram se cumprimentando pelo longo dia de trabalho árduo e muito bem concluído. Era hora de o parque fechar e esta era a atração que terminava por último devido ao fato de as apresentações serem feitas no período da noite, objetivando contar com efeitos mais complacentes. Todos os espectadores aplaudiram calorosamente a incrível apresentação e se retiraram impressionados e muito satisfeitos com a magnífica encenação que haviam presenciado.

Como uma brisa leve e quente

Como uma brisa leve e quente
Como uma onda de um mar ardente
Como o brilho de uma estrela cadente
Como a rapidez de uma serpente
Meu coração arde sem parar.

Eu fico angustiada
Sinto que minha vida está errada
Sinto que estou desarmada
Não consigo ficar desencanada
Gostaria de não mais poder pensar.

Irrefutável Destino


     Irresoluto sobre as almas que ali esplandeciam, permanecia a incoerente besta, pairando num céu profundo e obscuro.

      Eis a maleficência da vida aberta, por entre laços incríveis de medíocre melancolia, infindável no pensamento sádico desse asco, que tentava definir a pura existência de cada indivíduo exuberante, que repousava em seus arrabaldes, tentando tornar-se apto a sucedê-lo, sem que este pudesse perceber.

      Aquele funesto que se achava imponente e magnífico, dotado das mais soberbas sabedorias, mal sabia que andava sendo espreitado por pequenas criaturas que tentavam perfurar-lhe os olhos, destruir-lhe as entranhas, arrancar-lhe seu imundo conhecimento, na estúpida expectativa de sentir nas veias uma força que nunca lhes pertencera e nem ao menos o atraiçoado o havia também possuído.

      Bem aventuradas as sinestesias acopladas nos confusos pensamentos de cada ser provido de tal coragem e de espírito revolucionário, sendo estas as mais amenas das desordens que compunham tais reflexões.

      Incomodados com tanta imposição, enojados com constantes inclemências, uniram-se fortes e decididos a, naquele devido momento, apunhalar o que se dizia onipresente, mas que somente se encontrava estatelado em seu leito noturno, como um porco que acabara de se empanturrar.

      Pés ante pés, seguia a multidão com caras firmes e incrivelmente apavoradas, mal iluminadas por escassas chamas, que provinham de velas apertadas com ódio por mãos trêmulas, que ansiavam o sangue de uma vingança.

      O escroto todo poderoso aos poucos era cercado por um conjunto homogêneo e raivoso, desprovido de racionalidade, movido a impulsos e a desejos incontroláveis que num piscar de olhos estraçalharam aquela horrenda massa disforme que compunha o corpo adormecido, transformando-o em minúsculas migalhas estateladas, que foram atiradas ao chão abatido por puro barro avermelhado pelo sangue envenenado que havia jorrado há pouco, abundantemente.

      Calados, cada indivíduo ria um riso gostoso e infectado por rancor e horror, com maldade escorrendo por entre os dentes e olhos profundos e saciados apontando um irresoluto infinito.

      Assim, uma descomunal missão fora bizarramente concluída e, por fim, cada acorde de um som tremendo e incompreensível deixou subitamente de se estender por entre os vazios dos ventos uivantes que compunham aquele doentio final de noite.


Vi uma gota atrás da outra

Vi uma gota atrás da outra
Naquele instante a água não era escassa
Pingos grossos e finos de chuva
Escorriam lentamente pela vidraça.

Suado, chorando, encharcado
Na varanda, o vívido adorno sofria
Pensei em tirá-lo de lá com cuidado
Mas o vento frio não me permitia.