29 de agosto de 2020

Mini Textos da Quarentena / Desabafos pra Não Sufocar

Eu tenho essa mania doida de responder: "tudo bem sim, graças a Deus" e isso é tão automático, e algo "bizarramente" incontrolável, pq acho que simplesmente "tudo" ou "tudo sim" soa um tanto frio, beirando a falta de simpatia com uma pergunta que teoricamente demonstra alguma preocupação para comigo. Enfim, o fato é que eu, já há algum tempo, não acredito em Deus, e se por ventura ele existir, não está nem aí pra minha pessoa, de modo que eu tentar invocá-lo, fazer pedidos, preces, rezas e afins, pra mim, não surte efeito algum, são palavras ditas ao vento.

Desta forma, prefiro escrever poesia que é bem mais produtivo. Não é falta de fé, tenho fé nas coisas, fé nas pessoas (algumas), só não tenho fé em Deus. Se ele existir, nunca me ouviu. Tudo que eu pedi, nunca aconteceu e qdo finalmente desisti de parar de tentar falar com ele é que as coisas passaram a acontecer, e certamente não por ele, mas pelo próprio curso das coisas em si.

Ah, sei lá... Não tenho essas fantasias de que alguma força sobre-humana vai me ajudar, eu simplesmente levanto a bunda da cadeira e vou à luta, e sinceramente acho que é desse jeito que tem que ser. Pelo menos pra mim. Mas respeito muito, do fundo do coração, quem pensa diferente.


***



Muita gente não sabe, mas minha primeira pós foi em adm, depois da faculdade de cinema, e as pessoas sempre comentam: "nossa, nada a ver vc ter feito pós em adm, se fez graduação em cinema e gostava de teatro, pq já não fez logo de cara em artes cênicas e blá-blá-blá". Mas o fato é que meu tcc nessa pós foi sobre feedback positivo em gestão de pessoas e desde então eu uso isso que estudei em absolutamente TUDO, mas tudo mesmo na minha vida, pessoal e profissional. E eu vou morrer defendendo essa linha de pensamento e não há nada que me faça pensar o contrário!

Bem, anos depois, mais recentemente, já na reta final do mestrado, me deparo com uma situação que me fez confirmar ainda mais a importância deste jeito, inspirado no feedback positivo, de lidar com o outro. Eu tinha acabado de voltar de NY, onde participei de uma feira literária (na qual eu tive a imensa honra de conhecer diversas das minhas muitas musas inspiradoras), bem como estava escrevendo a todo vapor, e estava na reta final da produção do meu primeiro livro, com lançamentos já marcados para SP, Flip e off-Flip, mas tinha nessa ocasião um professor, pelo qual tenho um imenso carinho, uma eterna gratidão e um respeito gigante, que sempre muito me incentivou com minha escrita, mas nesse determinado momento passou a criticar, com muito afinco, tudo aquilo que eu vinha escrevendo (e de verdade, eu nunca entendi o porquê dessa mudança repentina no lidar com minha demanda de escrita).

Ele então dizia que achava meio "bobo" eu falar de amor e de superação de depressão, por exemplo, bem como achava um desperdício eu usar as formas da poesia popular brasileira pra falar sobre esse tipo de assunto. Ele dizia que o que eu escrevia não fazia muito sentido, vivia dizendo que os meus versos precisavam ter e fazer mais sentido para que as pessoas pudessem entender o que eu de fato estava querendo dizer e, embora minha métrica fosse perfeita, ele dizia: "parece que tem um pé quebrado aqui, leia de novo", e depois voltava atrás dizendo que estava tudo correto, mas ainda assim bem sem graça, enquanto temática/oração. Isso em geral acontecia em meio a companhia de outros colegas de escrita, o que acabou fazendo com que eu passasse a escrever cada vez menos, chegando até mesmo a travar na hora da escrita, e inclusive voltasse a me deprimir.

Enfim... Fiz os lançamentos programados, fui às feiras, ganhei os prêmios e tb conheci muitas e muitas pessoas especiais, que me estimularam demais a seguir em frente, bem como tb, com certeza, partilhavam (e partilham) desta visão de mundo ligada às questões do feedback positivo, como eu. Ademais, consegui mais uma vez me levantar, seguir com meus projetos e acabei por escrever e lançar, um pouquinho antes da pandemia, o meu segundo livro, esse da capinha rosa que tem gente que ainda acha que é só mais um livrinho de menininha.... Enfim...

Mas tá aí, pra agora e pra posteridade. Tudo isso pra dizer que SIM: tudo o que fazemos vai repercutir de alguma forma em algum momento de nossas vidas (ou seja, eu uso meus estudos de adm até hj, o tempo todo, e com muito prazer e gratidão) e NÃO: eu não vou parar de escrever pq ninguém tem o direito de tirar isso de mim! E SIM No. 2: estou melancólica e sensível em meio ao meu inferno astral e NÃO No. 2: eu não vou me arrepender de compartilhar esse sentimento, pois desta forma eu desafogo o meu peito e deixo aqui meu sopro de esperança e força, bem como meu grito de resistência e liberdade.

 

***

 

Ano passado, nessa época do ano, eu tirei duas semanas de folga e fui pro nordeste pra pela primeira vez em muito tempo, descansar por lá, pois ao contrário das últimas 5 ou 7 vezes que tinha ido pra lá, ia carregando dentro de mim aquele objetivo latente de pesquisar, de modo que era a primeira vez, nos últimos anos, que conseguiria voltar pra lá com as metas já alcançadas e os prazos já cumpridos. Fui primeiro pra Bahia e fiquei lá por uma semana. De lá, iria pra Pernambuco pra continuar minha folga por mais uma semana. Nesse meio tempo, voltei rapidamente a São Paulo, antes de seguir pra Recife, pra uma reunião que era muito, mas muito importante pra mim, e então segui viagem.

Voltando de Pernambuco, já renovada e com a ideia de um novo livro que começava a se desenhar, retomei a circulação do nosso espetáculo mais recente da cia. de teatro, fomos a festivais, fomos premiados, vivenciei coisas inesquecíveis e eis que aquela reunião do meio da viagem deu bons frutos, e fui contratada pra um trabalho que amava demais, de paixão, que era o sonho da minha vida, e eu vivi intensamente tudo aquilo.

Eu amava dar o melhor de mim, recebi tanto carinho dos pequenos com quem trabalhei, ganhei até presentes e bilhetinhos carinhosos no meu caderno de anotações (mesmo quando eu dava bronca ou ficava brava por não prestarem atenção), os quais às vezes eu só ia descobrindo a medida que sentava pra organizar um diário de atividades que eu preenchia religiosamente e de forma muito detalhada. Depois eu fui descobrir que isso talvez não fosse tão importante, ou se era, nunca ninguém me disse sobre a importância de fazer relatórios assim tão detalhados, mas eu seguia fazendo, já que era (e é!) o meu jeito de ser.

Durante essa experiência, tudo era extremamente perfeito, não fossem os constantes desfiles de egos e algumas caras e olhos que me fitavam como que me achando um tanto boboca, pq eu estava sempre sorrindo, o que pra mim era super normal, já que eu amava intensamente o que ali fazia. Às vezes tb sentia que me olhavam como se eu fosse boboca tb por ser "muito boazinha" (acho que era assim que falavam, enfim, não me lembro direito). Mas eu lembro bem de todos os olhos e dos olhos eu não me esqueço. Por fim, chegou o término das atividades por conta do recesso de natal e tudo o mais, e nada se falou de renovação de contrato.

Eu perguntei sobre, e muito carinhosamente me avisaram que a equipe atual ainda não havia sido definida e eu resolvi então aproveitar este intervalo de incertezas pra propor algo novo pra eles, na vontade de querer agregar, e mandei um e-mail com um projeto que desenvolvi com muito amor, pensando na estrutura e diretrizes do lugar, propondo a abordagem da cultura popular brasileira na instituição, pois aquilo fazia brilhar meus olhos, mas aí veio a pandemia e não tive nenhum retorno. Esse e-mail sobre a possibilidade de projeto NUNCA me foi respondido.

Talvez pq eu sorrisse demais, talvez pela pandemia, talvez pq não desfilasse meu ego pelos corredores, ou talvez pela plena realidade de eu me sentir muito mais à vontade na companhia das crianças do que dos adultos de lá, de modo que tinha muita dificuldade em conversar com esses adultos, mas o papo com as crianças fluia incrivelmente e até mesmo as mais espevitadas delas me ensinaram brincadeiras e curiosidades que até hj me servem de objeto de estudo.

No mais, segue o que eu realmente gostaria de dizer, a partir desta história toda: aos adultos que por lá conheci, deixo o meu profundo respeito, carinho e minha gigante gratidão pela oportunidade de ter vivenciado tudo isso, e às crianças que tanto me alegraram e me "infernizaram" carinhosamente por lá, deixo o meu eterno e mais puro amor, por provavelmente terem sido as únicas, neste período, a me enxergarem como de fato eu sou.

 

***

 

Fiquei pensando muito nesse período de quarentena: toda minha formação foi em teatro (bom, não posso me esquecer do cinema e tb da adm, rs!), mas o fato é que só recentemente passei a usar a poesia de forma digamos que profissional, bem como acadêmica (na realidade ela sempre esteve super presente em minha vida enquanto válvula de escape) e hj eu digo que sinto muito por isso (embora eu provavelmente vá me arrepender por estar dizendo isso).

E não por isso em si, mas basicamente pelas pessoas que conheci, não todas, claro, pois há belíssimas e amadas excessões, mas boa parte delas (principalmente com relação a parcela feminina da "coisa").

O que ocorreu é que eu fui tão bem recebida no meio literário e fiz amizades tão lindas, intensas e verdadeiras, que me lembram minhas amigas de infância (aquelas que conheço há uns 30/35 anos ou mais). Acho que nunca nenhuma dessas mulheres me encarou como "concorrente" ou como uma "ameaça". As mulheres da literatura são diferentes, elas se ajudam, se agregam, se fortalecem, se somam, se doam, se estimulam.

Pq não me atirei nisso antes? Pq? Acho que teria sido bem mais feliz, talvez nunca tivesse experenciado a depressão ou a síndrome do pânico... Mas... Enfim, como a vida é toda cheia de processos e acredito que cada etapa deva ser importante e blá-blá-blá...

E não que eu vá abrir mão do teatro, acredito que não. Isso é só uma reflexão. Mas com toda a certeza vou prestar bem mais atenção nas conexões (femininas, sobretudo) que vão brotando e se fazendo presentes nesse meu caminhar.

 

***

 

Hj me veio a cabeça um episódio que aconteceu comigo há alguns anos. Eu tinha acabado de deixar a edição de vídeo pra trabalhar como modelo, estava na Elite Models, e na ocasião só tinha a pós-graduação em adm, além da faculdade de cinema, e tinha voltado a estudar teatro. Naquele tempo eu estava gostando daquilo, me fazia feliz, eu ganhava bem (bem mais do que na edição de vídeo) e aumentava a autoestima, que, diga-se de passagem, nunca fora muito boa.

O fato é que peguei uma campanha pra uma empresa bem gde de cama, mesa e banho (vou expor aqui, né, afinal, dane-se, rs!), chamada Trousseau. Bom, eu cheguei no estúdio toda alegre, como de costume, fui bem recebida, estava trocando ideia com as outras modelos, porém alguns minutos depois o produtor/diretor de arte veio até mim e disse que precisaria me dispensar.

Eu perguntei pq e ele me disse na lata: "você é linda, mas a sua coxa é muito grossa e isso não é chique, então fica fora do padrão pra campanha". Detalhe: eles tinham me aprovado pro trabalho com muita antecedência, tinham todas as minhas medidas, fotos, material, etc e tal. Na época me lembro que saí destroçada. Chorei muito, liguei pra agência que tb pareceu se indignar (ou pelo menos fingiu que...), liguei pro João me buscar, fiquei mal pacas e afins.

Mas pensando nisso e em tudo, é por essas e outras que há quase três anos parei totalmente de fazer publicidade. Na época que decidi não mais fazer publicidade, eu usava a desculpa de que estava muito atrapalhada com os horários e obrigações do mestrado (e até hj eu uso desculpas como essa) pq pras pessoas parece um absurdo muito gde eu rejeitar trabalho nos dias de hj, sobretudo com cachês relativamente altos. Mas o fato é que qdo tomei essa decisão foi pq finalmente decidi que NÃO queria/quero ser reconhecida e valorizada simplesmente pela minha "casca".

Eu tenho muito mais que isso a oferecer e mesmo tendo a plena consciência de que o que ganho agora com teatro e poesia (literatura em geral) deva ser uns 20% (às vezes nem isso) do que ganhava com publicidade, tenho a plenitude de deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz comigo (embora com rivotril, rs!) por saber que não faço mais parte desse mundo de antes com o qual deixei de compactuar há muito tempo.

 

***

 

Por que será que quando demonstramos muito do nosso carinho e afeto para determinadas pessoas, elas fogem, ignoram, saem correndo ou simplesmente não sabem recebê-lo? Eu, por exemplo, sou 100% afeto e eu tenho uma necessidade absurda de externar o meu afeto pq ele é tão grande e tão intenso, por tudo e por todos, que é capaz de eu morrer sufocada se eu não colocá-lo pra fora. Mas acabei constatando, já há um bom tempo, um certo padrão nesta realidade na qual estou inserida, no sentido de que as pessoas parecem, em geral, se assustar com determinadas demonstrações de carinho e afeto, e tendem a sair correndo quando externo a alguém algo assim.

Já no meu caso é exatamente o contrário, o afeto me atrai, é como um imã, já o que me faz ter vontade de sair correndo é justamente a falta dele. Sei lá, é um mundo bem complicado e é algo que eu acredito que sempre vou custar a entender, bem como sei que terei essa imensa dificuldade de me encaixar nestes tipos de padrões recorrentes, além de não conseguir de verdade compreendê-los, o que é algo extremamente desconcertante pra mim.

 

***

 

Em tempos de pandemia, seguem sete regras básicas pra não ser um(a) babaca declarado(a) (do meu simplório ponto de vista) nas redes sociais:

1 - Te marcaram em uma publicação que te dá uma força, divulga seu trabalho, te deixa um carinho e afins? CURTA!

2 - Te mandaram uma msg? VISUALIZE (pode ser importante, se não pra vc, mas pra quem a enviou)!

3 - Visualizou uma msg que alguém teve a delicadeza de te enviar? RESPONDA (se não consegue escrever ou não está a fim, pelo menos dá um "curtir", manda um emoticon, etc, pois custa ZERO REAIS ser "simpático(a)/agradável"!

4 - NÃO marque pessoas em publicações que não sejam interessantes/necessárias e NÃO mande msgs que não sejam interessantes/necessárias! Ou não espere uma resposta por elas!

5 - Seja grato e "humilde", pois custa ZERO REAIS usar palavras como "desculpa" e obrigada(o)!

6 - Não sabe brincar? NÃO desce pro play!

7 - Se vc é bolsominion, DESCONSIDERE as regras acima, pois pra vc simplesmente não há salvação!

P.S.: isso não é uma indireta a ninguém em específico, é simplesmente uma constatação que me ocorreu durante esse período de quarentena. Se por acaso a carapuça lhe serviu, talvez seja a hora de vc repensar suas atitudes "fofuras"!

No mais, bjs de luz!

 

 

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Resgatei meu iPad antigo, de 2012, que ainda funciona e que agora comecei a usar como "kindle", só pra leitura de e-books, porque já estava ficando completamente cega de ler pelo celular. E eis que me deparo com essa minha pequena e insólita nota, de 22 de dezembro de 2016, esquecida no bloco de notas do antigo aparelho:

 

< Oi, eu estou dando continuidade a minha pesquisa da Pós nesta porcaria de iPad de quando eu fiz 30 anos, comprado em NY quando eu ainda era gente, porque agora eu sou uma pobre desgraçada que não tenho nem onde cair morta! >

 

E olha que eu nem imaginava que dali a 3 aninhos e pouco chegaria o nosso "glorioso" 2020! Mas, em tempo, comprei um laptop usado, um tempinho depois, na época do mestrado, e parei de reclamar! 

 

***

 

Será que pelo menos postumamente ela será vista, será lida, será assistida, será ouvida, será de alguma forma valorizada, atingirá as pessoas, cumprirá seu propósito? Será que deixei tudo acertadinho por aqui, será que o que fiz foi satisfatório, será que fui boa o bastante, prestativa o suficiente, principalmente para as pessoas que cruzaram o meu caminho? Eu tenho muitas incertezas, eu tenho muitas inseguranças, eu tenho muitas angústias, eu tenho muitas dores... Mas o que eu mais tenho é, sem sombra de dúvidas, medo de ter passado por aqui em vão...

 

***

 

Eu descobri um tanto que eu sou que eu nem sabia que eu era e outro tanto que eu não sou que eu tinha certeza absoluta que eu sempre fora. Eu descobri um "eu" tão diferente de mim mesma mas que é tão igual que eu nem acredito que eu de fato sou assim. E descobri que até agora eu estou na busca eterna de saber quem de fato eu sou, mas sem esquecer daquele "eu" que um dia eu sonhei ser.

 

***

 

Pra mim é simples assim: a rima acalenta a minha alma, por vezes me acalma e me permite transbordar. Já a métrica, quase sempre me conduz, quando é doida me seduz e "ritma" o versejar. Desta forma, eu constato e já sem ter muito tato: a paixão que me extravasa, sem a rima fica rasa, e se a métrica amolece, ainda assim ela acontece, pra que vou me preocupar? Então digo, brevemente, que ninguém me doma a mente, e se escrevo loucamente, é que gosto de rimar.

 

 


24 de maio de 2018

Trajetória

Outrora tive dúvidas tão selvagens
Sentia o corpo jogado às margens
E a alma um tanto despercebida
Dor mais cruel de minha vida

Cavei um buraco um tanto fundo
Inverti e devastei todo meu mundo
Rabisquei meu diário favorito
Soterrei o que tinha de mais bonito

Eu tinha um sorriso curto
Eu falava tão mais livremente
E a amargura me provocava surto
E o corpo comunicava descrente

Então me vejo tão tímida agora
Eu não era assim, eu fui embora
Ao fugir da arrogância de certo olhar
Meu livre discurso estava a minguar

E me deparo com uma leveza que cura
Com a maravilha de uma alma pura
Mergulho profundo no céu encantado
Saltei do buraco que havia cavado

Meu discurso hoje é movimento
Meu saber está neste mais puro olhar
Trabalho a escuta do pensamento
Compartilho a essência do que é amar

Curtas palavras, longos sorrisos
É desta forma que quero propagar
A delicadeza sem tantos avisos
O ser de verdade e a verdade no estar.

9 de janeiro de 2018

Entregue

Entregue a sorte
Perdida na noite
Sorrateira na morte
Sufocada no açoite

Permaneço inquieta
E me seguro pedante
Dissimulada e profeta
Entorpecida e avante.

28 de outubro de 2017

Espasmos Ríspidos

Espasmos ríspidos de uma noite destemida
Tortuosos caminhos, escalada sem luz
Olhos profundos, de uma face abatida
Cicatrizes esguias, feridas em pus

Efêmera passagem, alma suja e apodrecida
Não bastasse tão indigno, tal veneno que seduz
Breve e intensa, a pincelada de uma vida
Goteja lentamente, esfacelando sua cruz.

Arrogância Plena

Arrogância plena e prematura
Insignificante desdém amargurado
Simples desvio da enfadonha figura
Inexorável, inquieto e inconformado.

O Sonho Que Perdi

O sonho que perdi, chorando em desespero
Volta-se e me sorri, trazendo o seu tempero
Tentei cortar no início, arrancando-lhe o talo
E brotou tão intenso, não mais eu me calo
Chorei, sofri, perdida, executada, amargurada
Pensei que morria, sem valor, sendo um nada
Jantei outrora calada, derrotada e destruída
Hoje não mais sinto aquela dor tão desiludida
Uma faísca de esperança me veio na emoção
Me arrisco delicada, e te entrego meu coração.

Hoje em Silêncio

Hoje em silêncio sucumbi em dor
Com a certeza de um outro alguém feliz
Abro mão de todo esse meu amor
Sabendo esconder com classe tal cicatriz
Fica no peito a mudança de caminho
Tenho na alma a coragem de enfrentar
Fica pra sempre por ti meu carinho
E a alegria de sempre poder te ajudar.

Meu Amor

Meu amor por ti se transforma em luz
A porta se abre, teu olhar me seduz
Eu fico sem ar, quase sempre tão perdida
Tua face é tão plena e ilumina minha vida

Essa esperança tão logo se planta armada
Eu me sinto correspondida e temo estar errada
Se sou tola, apodreço quase que sem perecer
Quis afogar, mas me brotou assim sem querer

As horas contigo são tão mais que preciosas
Eu me entrego, me atiro, são conversas deliciosas
Tua alma sincera, tua presença me deixa certa
Meu coração então sucumbe, porém se liberta.

Os Sonhos

Os sonhos vão se esvaindo
Escoam-se inevitáveis no chão
A luta que cá vinha surgindo
Era de amor, costura-se em vão
Meu semblante se dilui
Minha face empalidece
Nada mais daquilo flui
E minh'alma desaparece.

16 de maio de 2013

Longos e Desfigurados

Longos e desfigurados, torpes andantes
Dorsos envergados, pobre multidão
Farpas, fiapos, linhas e barbantes
Bárbaros soturnos, na cíclica ilusão

Estáticos, incrédulos, moribundos, dissimulados
Disseminados, eloqüentes, em total devassidão
Desmembram e desenterram, brotos adoentados
Escorrem tão lânguidos, de encontro ao chão.

25 de março de 2013

Ausência Total

Ausência total daquela quietude
Predisposição a sua descrença
Perdão sem qualquer vicissitude
Olhos incertos, tolice propensa


20 de fevereiro de 2013

A Força

A força que outrora escondia
Encontro brotando a servir
Que fique enraizada este dia
Sem medo, sem dó, sem partir

Escorria dantes alarmada
Saltava amarga a azedar
Hoje nasce feliz, desarmada
Floresce para agora reinar.

18 de dezembro de 2012

Sorriso aberto

Sorriso aberto, olhos desfocados
Murmúrios distantes, palavra incompreendida
Pessoas por perto, abraços desencontrados
Pensamentos de antes, ponto final na vida.

29 de novembro de 2012

Desmilinguida


A desmilinguida e tórrida apática andava pela rua a exibir seu disforme corpanzil, não tão ereto, por conta de uma intrínseca corcunda que aos poucos brotava em meio as suas costas tão drasticamente esqueléticas. Exibia-se como uma imperatriz menina que reina em sua torre de marfim, embora poucos saibam que por detrás de toda esta pompa, coma ela migalha por migalha, do pão que o diabo amassou tão miseravelmente, dia após dia de sua vida assim tão enfadonha, obrigando-se a dividir cada uma destas migalhas com dezenas de outros corpanzis, assim também disformes e substancialmente apáticos.   
Pena a desarticulada, não embasada, talvez precipitada escolha, embora, no fundo, mesmo que inconsciente, saiba ela ainda da oportunidade de reversão, do basta, da não submissão, do redesabrochar, da autoimposição, bem como da recorrência à utilização do poder de persuasão e valorização própria, imaculados em cada qual, que certamente brota de suas entranhas.

31 de outubro de 2012

Brisa morna

Brisa morna, ventos sufocantes
Pingos grossos, agora encorpados
Dores antigas, hoje suplicantes
Pecados antigos, outrora perdoados.

29 de setembro de 2012

Límpidas águas


Límpidas águas transparecendo
Doces e imaculadas ilusões
Simples sentidos enaltecendo
Cores mais belas em difusões.

Híbridos odores resplandecendo
Palavras chistosas auferem sermões
Ouvidos afiados ensurdecendo
Flores perfumadas nas quatro estações.

8 de agosto de 2012

Olhos ruins

Olhos ruins que assim nos seguem
Boca imunda que tão falsa nos diz
Tanta hipocrisia destes que nos medem
Egoísmo disfarçado, seguro por um triz.

10 de julho de 2012

Espera contínua

Espera contínua, que sem fim me persegue
Esforço incrédulo, vem de todo maçante 
Paciência q se vai, já não mais lá se ergue
Incoerente vislumbre, que se segue adiante.

15 de junho de 2012

Varetas oblíquas

Varetas oblíquas, uma ou outra desajustada
Lindas esmilinguidas, uma ou outra assim tão pura 
Em teus olhos obscuros enxergo o nada
Em teus sorrisos encantados encontro doçura.

6 de maio de 2012

Incrédulo desvio

Incrédulo desvio inabitado
Benevolente estorvo definitivo
Incoerente vazio desesperado
Desolado, encefálico e distintivo.

Irrevogável marginal atormentado
Inconsistente, dúbio, assim tão rijo
Pedante, ignorante, desajustado
Sofres doente, no esconderijo.

17 de abril de 2012

Dor enfática

Dor enfática que dantes desdenhava-me
Esfacelei-a tão doce assim
Cravelhei-lhe no âmago que sempre apunhalava-me
Espurguei-a certeira pra longe de mim.

Miúdos sentidos, estribilho amargurado
Imundice diurna que logo chegou ao fim
Vívido suplício outrora eternizado
Esvaiu-se tão quanto antes já vim.

1 de março de 2012

Intrínseca podridão

Intrínseca podridão desenfreada
Sórdida dor, tola e incalculável assim
Encoberta por uma alma amargurada
Hostil, imunda, pregada em mim.

Desiludida, na lama, embatumada
Córrego de sangue, maldito e seco capim
Que me consuma logo a alma, já desgraçada
E estanque o jorro, ponha logo um fim.

23 de fevereiro de 2012

Solitude magnífica

Solitude magnífica transcendendo-me a alma
Quietude conceitual roubando-me a calma
Discórdia infinita que me invade a solidão
Insígnia amenidade, fulgaz e sem noção.

1 de novembro de 2011

A antítese

A antítese do marasmo ensurdecedor garantia-me uma vindoura e pasmaceira noite de nuvens enegrecidas. Eis que estagnada estava naquele chão desnudo e ignóbil, sem que qualquer expectativa de periculosidade, bem como imperturbabilidade alguma pudesse transgredir-me. Era uma vertiginosa camada da mais pura e párvoa debilidade mundana jamais dantes defrontada. Seria parte de seu tão ferino e inescrupuloso hábito de sofismar? Quisera eu ter um quinhão sequer de refutação, contudo, assim, desta maneira, a orar de modo mais que pertinaz e tão convulsivamente, encerro por perdoar-te, sem relutância, outrora, se não agora.

9 de setembro de 2011

Borboleta

Naquela manhã embevecida pelo perfume açoitador de uma noite inteira de triste enxurrada, pairava por entre as oriundas flores, a mais deslumbrante das borboletas já avistadas naquele intransigente vale, repleto por brejos e figuras espasmódicas.
Era bela, inconsequente, oblíqua, de um brilho incandescente, exalando uma certa dubiedade a medida que planava delicada, como uma pena a flutuar, e imponente, como o mais onipresente dos seres, se esguiando por entre a vegetação.
A simplicidade não lhe fazia parte, bem como a enfadonha consciência de sua limitada e inocular condição.
Um pouco mais adiante, à espreita, por entre galhos retorcidos e enredadores, encontrava-se outrem, de ténue e triste semblante, à espera daquilo que lhe traria um miúdo, mas significante, quinhão de felicidade.
O início de uma densa e torpe garoa antecedeu aquilo que seria o último bater das asas daquele singular, mas extraordinário inseto, tornando sua doce e altiva existência pífia, assim como o mais puro intento de cada indivíduo que já ousou na terra subsistir.

18 de agosto de 2011

Instinto amargurado

Instinto amargurado, doce desdém
Fétida alma, desgosto sem fim
Tortuosamente chega e me detém
Suja minha índole, crava-se em mim.

18 de maio de 2011

Sinto que minha vida não é pequena

Sinto que minha vida não é pequena
Sinto que posso não mais ser serena
Sei que tudo valerá a pena
Sei que a dor poderá ser amena
Antes que a morte entre em cena
Percebo que a infelicidade não mais me condena
Descubro o fruto que me envenena
Atiro-o longe, sem temer.

Descubro que o amor engrandece
O meu corpo agora perece
A essência da alma permanece
O perfume proibido enaltece
Você escuta e atende minha prece
Envia-me um sinal, mas não aparece
Me protege do frio, me aquece
O vento gelado e obscuro enlouquece
A chama se apaga, o fruto amadurece
E antes que eu me cure, você me esquece
Some pra sempre e eu fico a sofrer.

10 de março de 2011

Tédio

Tédio este que me consome
Enfadonho sentimento de desilusão
Ira, por Deus, não me transforme
Atenue minh´alma, resgate-me do chão.

Se te desdenho, não é por demais
Se me arrisco, arrebento-me na surdina
Soa-me tão claro que não sou capaz
Por mais repugnante, ainda sou menina.

4 de fevereiro de 2011

Gota lírica

Gota lírica de extrema pungência
Tronco retrógrado, água tão ferrenha
Superfície distorcida, torpe displicência
Afaga-me o dorso, tão logo me desdenha.

11 de janeiro de 2011

Tão infindável

Tão infindável e ambíguo era o ser
Duro, vil, sádico e um sobejo poltrão
Vi, pouco a pouco, sua tez empalidecer
Soluçou e suplicou-me, assim de supetão.