23 de fevereiro de 2010

Gota de Orvalho

      Dotada da mais bela e eminente sensação de limpidez, desfilava por entre folhas verdes e viçosas a mais genuína e apaniguada gota de orvalho, exalando júbilo e frescor.
      Era arredondada, diáfana, sensível, mas não chegava a ser pusilânime.
      Simplesmente conservava-se, sem que pudesse interferir diretamente na pura essência de qualquer ser que ali se achava, de modo que sentia-se um tanto quanto incapaz e vez ou outra insignificante.
      Dimanava singela e docemente a encorpada gotícula, sempre a deixar em seu breve caminho, um deleitoso traço a desenhar-se.
      E assim, à medida que sua concisa vereda era consumada, minguava deliberadamente a suave pequenina, até que, inevitavelmente, a partir de uma oportuna ocasião, passou a não mais existir.